06 de Abril de 1996

Hoje a mamãe estava olhando uns cadernos antigos e olha só o que ela encontrou:

14/11/91 – Não consigo pensar em mais nada. Sei que é loucura, que não tenho condições, mas sinto uma idéia fixa martelando em minha cabeça. Deus, eu quero ter um filho! Hoje não consegui pensar em outra coisa. Ficava me projetando para o futuro e me via com meus filhos. Parece um sonho tão distante! Tudo o que sei é que quero muito ter um filho. Só assim eu teria um pouquinho daquilo que as pessoas chamam de Felicidade.

Não acredito mais em nada. Me sinto tão infeliz, como nunca fui em toda a minha vida. Me sinto totalmente sem esperança, sem vontade de viver. E a única coisa que me dá coragem, que me mantém viva é o desejo de ter um filho.


Acho que se não fosse por isso eu nem estaria mais aqui, nem estaria mais nesse mundo. Talvez já tivesse cometido alguma loucura.


Só encontro forças para lutar nesse filho que eu ainda não tenho. Fora isso, não vejo razão nenhuma para continuar viva.


Mas eu não sei por quanto tempo um sonho pode me manter viva. Tenho medo de que um dia me desiluda tanto a ponto de ter forças mais para esperar este sonho se tornar realidade.


Acho que eu preciso desse filho para ter uma razão para viver. Sei que com ele por perto, eu vou sentir que ele precisa de mim e eu dele. Por Deus, eu quero esse filho mais que tudo no mundo. Eu nunca quis me casar. Mas sempre quis ser MAE.


Ah Meu Deus! O Senhor sabe de tudo. Então olha um pouquinho para mim e realiza meu desejo. Veja como sou infeliz. A única coisa que pode me dar esperanças para continuar vivendo é um filho. Será que é pedir muito? Me sinto tão sozinha, tão morta!


Não peço luxo nem riqueza, somente um filho e um pouquinho de condições para cria-lo. Sei que estou sempre rodeada de pessoas, mas mesmo assim, continuo me sentindo sozinha. Um ser pequenininho que eu pudesse abraçar, pegar no colo, beijar, me faria muito feliz.


Eu teria alguém para dividir meu mundo. E teria motivos de fazer o meu mundo ser melhor por causa dele. Fico imaginando aquelas mãozinhas e aqueles pezinhos tão miudinhos. Os olhinhos mal se abrindo e aquelas feiçoezinhas tão delicadas.


Meu Deus, não me negue o direito de ser feliz! Não me tire a esperança de viver.